Conversar_Baleias_Atraves_IA

1. A Linguagem dos Animais

Será que os animais possuem linguagem própria? Esta é uma ideia que não é consensual e divide muitos especialistas na área do comportamento animal. Para alguns cientistas, como o biólogo Konrad Lorenz (um dos pioneiros), os animais comunicam mas não chegam a falar entre si obedecendo a regras linguísticas. Outra corrente de opinião, defendida pelo biólogo marinho Karsten Brensing, está convencida que certos animais apresentam algumas nuances na vocalização e estas podem ser consideradas como parte de uma linguagem.

Na verdade, existem animais que provam ser capazes de aprender novo vocabulário, desenvolvendo dialectos e conseguindo identificar outros da mesma espécie pelo nome. Entre os que apresentam esta capacidade estão alguns pássaros, que imitam na perfeição alguns toques de telemóvel, e os golfinhos, que desenvolvem assobios personalizados como identificadores entre eles, quase como um nome próprio.

2. O Projecto CETI

Não é de estranhar por isso que, em Março de 2020, vários cientistas tenham dado início a um projecto interdisciplinar com o objectivo de descodificar a linguagem dos cachalotes, as maiores baleias dentadas existentes. Através de Inteligência Artificial, o projecto CETI (Cetacean Translation Initiative) pretende demonstrar que é possível descobrir o que os animais estão a falar e provar que uma conversa entre eles é algo que acontece de facto. Os cliques dos cachalotes são candidatos ideais para uma descodificação porque, contrariamente aos sons contínuos de outras espécies de baleia, estes são facilmente traduzíveis para linguagem binária, formada por “0”s e “1”s.

No vídeo a seguir, é possível observar e ouvir a comunicação de uma família de cachalotes durante o ritual de iniciação de um novo membro da família:

Entre os integrantes da equipa do projecto CETI está Michael Bronstein, um especialista em Processamento de Linguagem Natural (NPL), ramo da IA que lida com a análise automática do discurso escrito e falado. Bronstein juntou-se ao biólogo Shane Gero e começou a analisar as gravações de codas (sequências-padrão de cliques dos cachalotes) que Gero andou a colecionar desde 2005. Depois de aplicar alguns algoritmos de machine learning às sequências, Bronstein avaliou os primeiros resultados como bastante satisfatórios perante testes simples.

3. Desenvolvimento do Projecto e Futuro

Tiradas as primeiras conclusões, a equipa de pesquisa continuou a juntar mais codas de modo a expandir a sua coleção de dados. O objectivo presente e futuro passa por colecionar o equivalente a 4 bilhões de palavras, sabendo-se que a rede neuronal utilizada tem a capacidade de treinar com 175 bilhões de palavras. Em termos de comparação, de referir que o projecto inicial do Dr. Shane Gero conseguiu juntar menos de 100 mil codas de cachalotes.

Caso o projecto CETI continue a obter resultados e a evoluir no seu estudo, é realista esperar o desenvolvimento de um sistema análogo aos modelos de linguagem humana, no qual são geradas sequências de codas de acordo com regras gramaticais próprias. No entanto, apesar de essa linguagem poder ser válida, será necessário ter em conta um outro tipo de dados: o comportamento dos animais associado a cada sequência de cliques.

O objectivo seguinte passará, então, por desenvolver um chatbot interactivo que possa entrar em diálogo com cachalotes vivos, tendo em conta a linguagem e o comportamento animal associado. E esperar que haja um receptor disposto a dialogar…

Enfim, muitos dados por colecionar, muitos algoritmos para funcionar, mas os dados estão lançados e o futuro está aí à porta!

 

 

 

 

 

 

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